terça-feira, 1 de junho de 2010

Carlos Lima relata o I Ciclo de Leituras Dramáticas do NJÁ


Um Exercício de Arte

O sol se punha e o momento mágico do entardecer enchia o céu de azul e laranja. O crepúsculo inquieta, sempre, nem ele sabia por que. Nas pedras centenárias da rua ao lado do Solar Bela Vista, lá vai o espectador, excitado, ansioso, pois ia ao encontro da arte. Uma leitura dramática. A antiga Junqueira Aires se abre larga à sua frente, olha para um lado, para o outro e lá estava a casa de Cascudo. A ansiedade aumenta.

Ao portão, duas câmeras o olham e um guarda fardado, gentil o deixa entrar. Impossível não sentir alguma coisa ao entrar na casa de Câmara Cascudo, pensa ao subir a escada da entrada. O espaço respira cultura, arte, história. Saber que ali viveu um gênio da nossa cultura é uma sensação indescritível para aquele espectador pontual, um dos primeiros a chegar, mas o pessoal ainda estava se preparando, ensaiando, havia um violão e alguém cantava.

Tudo começou no jardim. Ali, sentado, ele ouviu os jovens cantando. Canções de um novo tempo que parecia o de sempre, falavam de corações dilacerados, abraços, coisas do amor. A música deles é uma novidade necessária. Expressa sentimentos. Ele ouve com atenção. Uma guitarra sutil ecoa notas delicadas no pavilhão que servia de cenário. Eles cantam “eu olhei você...” e colunas impávidas testemunhavam mudas, sólidas pareciam sustentar a energia daquele ato de cantar e representar a arte e a vida. Cantam: “é hora de voar...” e voam no embalo das vozes. O que diz essa nova música? Diz que a hora é dos novos caminhos da arte que se anunciam.

Suas composições interpretadas com sentimento embalam a platéia. E aquela música entrava pelos ouvidos, pelos olhos, pela mente. A noite chegou com versos e vozes, violão e guitarra. “Na verdade eu nem sei cantar, na verdade eu nem sei fingir” diziam na canção.

A leitura dramática começou com duas atrizes vestindo algumas personagens. Um texto rico, carregado de ironia e sarcasmo discutindo relações. Com muito talento e sofisticação as atrizes enfrentam o desafio proposto pelo minimalismo do desenho cênico e a grandeza do texto com interpretações impecáveis. Puro teatro. Um exercício de Arte.

No dia seguinte estava em cena a tragédia. A história de Medéia, que foi traída e planeja a vingança mais cruel contra o marido que a abandonou. Essa história é contada por atores que alternam personagens e uma atriz encarnando a atormentada mãe que mata os próprios filhos. A leitura é cumprida com rigor e uma bela interpretação da atriz que faz Medéia.

Em seguida entram em cena duas atrizes para interpretar um sketch inspirado em texto de Clarice Lispector. Surpreendentes, imediatamente conquistam a platéia. As atrizes com suas interpretações envolventes dominam a cena. A performance arrebata aplausos em cena aberta.

Ao final das apresentações a impressão que ficou na mente do espectador sobre este evento marcante na nossa vida cultural, confirma a esperança que ele tem nos jovens, eles que vivenciam os caminhos da arte, que vivem o Teatro, a procura dos seus roteiros de vida, que buscam seus caminhos de expressão na magia da representação teatral. Bravo!

Foi assim o I Ciclo de Leituras Dramáticas do Núcleo de Jovens Artistas.


Texto de Carlos Lima, generosamente enviado para o Núcleo de Jovens Artistas. Carlos, muito obrigada pela atenção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário